Uma mancha de fogo com mais 500 quilômetros de extensão e mais de 400 quilômetros de largura tem avançado sobre a Amazônia, conforme captado pelo satélite europeu Copernicus. Na quinta-feira (29), o fenômeno cobria os estados do Amazonas, Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além de áreas do Peru, Bolívia e parte do Paraguai.
Segundo dados do programada BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Amazônia registrou mais de 61 mil focos de queimadas de 1º janeiro até sexta (30), enquanto o Pantanal contabilizou quase 9 mil focos. Os dois biomas estão no território que está sendo afetado pela mancha de fogo.
Abaixo, veja a situação dos estados onde a mancha de fogo foi registrada:
O satélite Corpenicus aponta que a mancha de fogo tem se expandido com o passar dos dias. Na quarta-feira (28), o fogo se concentrava no Amazonas, em Rondônia e no Mato Grosso.
No entanto, o cenário mudou e o mapa mostra que Acre, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia estão formando, agora, um cinturão de fogo. O satélite também mostrou um crescimento de queimadas na região de Novo Progresso, no Pará.
Leonardo Vergasta, meteorologista do Laboratório do Clima (Labclim) da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), explicou que a mancha indica uma alta concentração de dióxido de carbono na atmosfera, resultado das queimadas que produzem essa fumaça.
“A formação de queimadas está diretamente relacionada a essa concentração de dióxido de carbono, que é um gás que está presente na atmosfera terrestre. A circulação do vento está normal, mas as queimadas persistem na Região Sul do Amazonas, no Acre e em Rondônia”, afirmou.
Vergasta também destacou que a falta de chuva intensifica o problema. “Regiões como Mato Grosso e Rondônia estão há mais de 90 dias sem chuva, enquanto o Sul do Amazonas e o Acre enfrentam uma seca de 7 a 21 dias. A ausência de chuva e as altas temperaturas durante a estação seca tornam a vegetação extremamente vulnerável às queimadas provocadas pela ação humana”, explicou.
Controle de queimadas em Apuí, no Amazonas — Foto: Divulgação/CBMAM
A pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar, afirmou que os rios voadores — corredores de massas de ar que transportam a umidade da Amazônia para outras partes do país — podem contribuir para a dispersão da fuligem das queimadas. Na semana passada, uma nuvem de fumaça chegou até o sul do Brasil, afetando 10 estados.
"A Amazônia desempenha um papel crucial para o restante do país por meio dos rios voadores. Quando a região está muito seca, isso impacta esses rios voadores. Além de transportar a umidade, as massas de ar também carregam a fuligem, as partículas de aerossóis e outros materiais liberados pelas queimadas", explicou.
A pesquisadora também destacou os riscos que a Amazônia enfrenta se continuar experimentando ciclos mais frequentes de queimadas.
"A floresta amazônica não é adaptada ao fogo. Quando ocorrem incêndios, muitas árvores morrem, iniciando um processo de degradação. Se essa situação persistir, a degradação só tende a piorar, pois a floresta necessita de tempo para se recuperar", alertou.
"E com isso, o impacto é a mortalidade das árvores, tem impacto, ainda, no estoque de carbono, na biodiversidade em si e se esse fogo continuar recorrente, a floresta vai estar mais inflamável, e vai haver um empobrecimento da vegetação, e somente as espécies adaptadas a essas condições vão conseguir se estabelecer nesse lugar", finalizou.
O Governo Federal disse que liberou, até agosto deste ano, R$ 405 milhões do Fundo Amazônia para apoiar o Corpo de Bombeiros dos estados da Amazônia Legal. Além disso, R$ 785 milhões do programa União com Municípios foram destinados para ações de combate ao desmatamento e incêndios em 70 municípios prioritários.
Ainda segundo o Governo, o presidente Lula sancionou, em julho deste ano, um projeto de lei que regulamenta o manejo integrado do fogo no país.
No início da semana, o Palácio do Planalto também autorizou a contratação de brigadas federais temporárias para a prevenção e o combate aos incêndios florestais em 19 estados e no Distrito Federal.
A medida foi oficializada por meio de uma portaria do Ibama, que autoriza o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) a estruturar brigadas em um conjunto de cidades brasileiras afetadas pelas queimadas, com estruturas e tamanhos diversos.
Os municípios contemplados estão nos estados do Amapá, Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Maranhão, Tocantins, Pernambuco, Pará, Paraná, Piauí, São Paulo, Roraima, Rondônia e Rio de Janeiro, além do Distrito Federal.
Segundo o Planalto, as brigadas variam em tamanho e as equipes podem ser compostas por chefes de brigada, chefes de esquadrão e brigadistas — em quantidades que variam entre dez e 25 profissionais, em alguns casos.
Queimadas no Pantanal - crânio de crocodilo queimado é visto em Corumbá (Mato Grosso do Sul), em 10 de junho de 2024. — Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino
Fonte: g1