A defesa de Lourival Correa Netto Fadiga, o Gordo ou Fatica, réu no Caso Anic Peixoto Herdy, disse que ele confessou que matou a advogada sozinho e depois enterrou e concretou o corpo. Ele deve ser ouvido nesta quarta-feira (25) na 2ª Vara Criminal de Petrópolis.
Lourival, de acordo com a defesa, alega que matou Anic no hotel, no dia 29 de fevereiro deste ano, mesmo dia em que ela foi dada como desaparecida. Depois, o corpo foi levado para um local na Região Serrana.
Em uma coletiva de imprensa nesta terça (24), a advogada de Lourival, Flávia Fróes, afirmou que “o mandante do assassinato é Benjamin Herdy, marido de Anic”.
O advogado João Vitor Ramos, que representa o viúvo, disse que nova versão apresentada por Lourival "se trata de mais um ato de desespero e de crueldade" e que tanto ele quanto seus procuradores serão processados (Leia a íntegra da nota ao fim desta reportagem).
Flávia afirmou ao g1 que o local da morte da mulher vai passar por perícia, incluindo o uso de luminol para detectar o sangue de Anic, além de coleta do material genético da vítima. O corpo de Anic nunca foi encontrado.
Lourival afirmou que o crime começou a ser planejado em janeiro, um mês antes do desaparecimento de Anic. Segundo ele, a vítima está morta desde então, e o sequestro foi uma invenção:
“Benjamin determinou a morte desde o mês de janeiro, e o sequestro foi uma forma de encobrir esse crime”, afirmou Flávia Froes.
“Todo o plano foi forjado por ambos, e só não deu certo porque a filha de Benjamin gravou uma conversa dela com Benjamin e Lourival, em que ela estranha o crime”, prosseguiu.
“Durante todo o período do falso sequestro, Benjamin e Lourival estiveram juntos. As antenas dos celulares de Lourival e Benjamin vão provar que ambos estavam no mesmo lugar e fizeram tudo juntos”, acusou. “Lourival utilizou o telefone da Rebecca para se movimentar, e manda a mensagem de Guapimirim para Benjamin após o assassinato.”
A delegada que coordenou as investigações, Cristiana Onorato Miguel, disse ao g1 e à TV Globo que nada foi encontrado contra o marido de Anic.
“Ao contrário do telefone do Lourival, que foi totalmente apagado por ele, o telefone do Benjamim foi periciado e vasculhado de ponta a ponta. Nenhum indício nesse sentido foi encontrado”, afirma.
A advogada também apresentou uma carta supostamente escrita por Lourival da cadeia na segunda-feira (23), em que ele confessa o crime.
“Eu, Lourival C. N. Fatica, declaro que o Benjamin Cordeiro Herdy me mandou matar sua esposa, Anic Herdy, e que a compensação financeira é mera cortina de fumaça.”
Carta supostamente escrita por Lourival Fatica — Foto: Reprodução
Sobre a motivação do crime, a advogada Flávia Froes disse que “quem pode dizer é o próprio Benjamin”.
Ela afirma que a motivação de Lourival foi uma só: “Dinheiro. A motivação dele seria o pagamento no valor do próprio sequestro, R$ 4 milhões”, afirmou a advogada.
“Ele [Benjamin] sugeriu que Lourival assumisse o crime sozinho, e que ele iria fazer uma compensação financeira para sustentar a família dele”, disse a advogada de defesa de Lourival.
A defesa alega que câmeras de um Bradesco no Barra Shopping revelam o momento em que Lourival e Benjamin vão fazer um saque de R$ 15 mil. O fato aconteceu no dia de cumprimentos de mandados de busca e apreensão nas casas de ambos.
No dia 30 de agosto, a defesa afirmou que o segurança confessou ter matado a advogada — até então, Lourival, seus 2 filhos e a amante eram investigados por extorsão mediante sequestro e pelo desaparecimento de Anic.
“Anic está morta”, declarou a advogada Flávia Fróes. “Ela foi morta desde o primeiro dia.”
Anic e Lourival — Foto: Reprodução
Esse dia, segundo a defesa, foi o 29 de fevereiro, justamente quando Anic foi vista pela última vez em Petrópolis. Lourival está preso desde maio e já é réu pelo desaparecimento e extorsão.
A defesa diz que Anic era de fato amante de Lourival e foi com ele no dia da morte por espontânea vontade, então não houve sequestro, apenas o homicídio.
Segundo o MPRJ, as tratativas sobre uma delação estavam sendo efetuadas, “mas o MPRJ e a parte não chegaram a um acordo sobre os benefícios que poderiam ser aplicados ao caso concreto”. “Caso novas provas sejam apresentadas de maneira espontânea, serão validadas e, se for o caso, consideradas, fora do âmbito de uma colaboração premiada”.
A ação penal segue em curso perante a 2ª Vara Criminal.
"Em relação à 2ª entrevista coletiva convocada e prestada pela defesa de Lourival, a família de Anic entende que se trata de mais um ato de desespero e de crueldade.
Diante do óbvio e inevitável fracasso em tentar imputar a responsabilidade à própria vítima, tese que tentou emplacar quando do início das investigações, Lourival novamente altera a sua versão e agora, após a conclusão das investigações, adota a patética estratégia de desestabilizar Benjamim e Lara, que em breve serão ouvidos em declarações na instrução criminal, ao atribuir a autoria ao marido da vítima.
Como se observa, retirar a vida de Anic não satisfez Lourival. A dor e o sofrimento do marido e dos filhos da vítima também não foram suficientes. Acuado pelo iminente início da instrução processual, que certamente culminará na sua condenação, assim como de todos os indiciados pela autoridade policial e denunciados pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, Lourival utiliza o holofote proporcionado pela repercussão do caso para se promover e para prosseguir na missão de destruir aquilo que nunca foi capaz de alcançar em sua vida e que sempre invejou em Benjamim, Anic, Nickolas e Lara: A união e o amor de uma família.
Lamentavelmente, essa empreitada conta com o apoio da defesa, que deveria se limitar ao aspecto técnico. Talvez acreditando que o exercício do inafastável direito de defesa lhe confere imunidade absoluta, Lourival, por intermédio dos seus procuradores, há muito prática reiterados abusos e excessos, incluindo-se, a toda evidência, a falsa imputação pública de crime a Benjamim.
Embora a emoção e a impulsividade reclamem resposta à altura, a família de Anic e seus advogados seguirão firmes no respeito ao devido processo legal, sempre observando o sigilo do processo criminal e, principalmente, atuando e dialogando nos estritos limites institucionais.
Portanto, como consequência das declarações formuladas na entrevista coletiva em questão, Lourival e seus procuradores serão demandados na esfera cível, criminal e disciplinar.
No mais, a família de Anic segue acreditando no Poder Judiciário e, principalmente, na minuciosa investigação conduzida pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, que há meses identificou e denunciou os efetivos responsáveis pelo assassinato de Anic.
Petrópolis, 24 de setembro 2024
João Vitor Ramos
OAB/RJ n. 224.566".
Fonte: g1