Após o expressivo crescimento da economia brasileira no primeiro trimestre (1,9%), o Banco Central (BC) elevou sua estimativa para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2023, de 1,2% para 2%. A nova projeção faz parte do Relatório Trimestral de Inflação, divulgado nesta quinta-feira (29).
Apesar da estimativa mais otimista, ela ainda está abaixo do que espera o Ministério da Fazenda, que já enxerga um crescimento na faixa dos 2,4% para a economia brasileira neste ano. No mês passado, a Secretaria de Política Econômica (SPE) já havia atualizado sua estimativa oficial de crescimento do PIB neste ano para 1,9% — ante projeção de 1,6% em março.
A estimativa da Fazenda leva em conta o chamado “carry over”: se houver variação zero do PIB nos próximos três trimestres, na comparação com o período janeiro-março, apenas o efeito estatístico de carregamento já levaria o crescimento para a faixa dos 2,4% neste ano, segundo cálculos da Fazenda.
A conta do Banco Central, que consta do Relatório de Inflação, mostra que, pelo lado da oferta, após o desempenho positivo do agronegócio no começo do ano, o BC elevou a estimativa para a expansão da agropecuária de 7% para 10%.
Já a revisão para a indústria foi de alta de 0,3% para 0,7%. No caso dos serviços, o BC mudou a previsão de crescimento de 1,0% para 1,6%.
Em relação aos componentes da demanda, o Relatório alterou de 1,5% para 1,6% a expectativa de crescimento do consumo das famílias e aumentou de 0,7% para 1% a previsão de alta do consumo do governo.
O documento de indica também que a projeção para 2023 da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) – mede o volume de investimento produtivo na economia – passou de zero para queda de 1,8%.
O Relatório de Inflação trouxe também projeções para a inflação de curto prazo – meses de junho a setembro. Para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – índice de inflação oficial – de junho, o BC revisou de alta de 0,29% para queda de 0,08%, devido às estimativas mais baixas para alimentação no domicílio e bens industriais. No caso de bens, o principal vetor é o programa de desconto em veículos, iniciado este mês.
“A medida, que dispõe sobre mecanismo de desconto patrocinado na aquisição de veículos, deve resultar em queda nos preços de automóveis em junho, com reversão parcial desse efeito nos meses seguintes.”
A previsão do BC para o IPCA de julho é de aumento de 0,29% e, para agosto, é de elevação de 0,25% e, setembro, alta de 0,26%. Em 12 meses, a inflação cede de 3,94% em maio para 3,16% em junho, ainda refletindo as desonerações tributárias criadas no ano passado, mas atinge 5,38% em setembro, segundo os cálculos da autoridade monetária.
Segundo o BC, o cenário de referência até setembro contempla variações baixas nos preços de alimentos, em linha com a sazonalidade favorável e com a evolução benigna dos preços de produtos agropecuários no atacado.
Entre os administrados, os preços da gasolina deverão ser pressionados por mais uma etapa da reoneração dos impostos federais no início de julho, com compensação parcial da dissipação das altas observadas no trimestre anterior nos preços de produtos farmacêuticos, jogos de azar e tarifas de água e esgoto.
O BC disse ainda que espera a incorporação de variações menores em plano de saúde, tendo em vista o anúncio pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) de um limite máximo para reajuste de planos individuais e familiares regulamentados inferior ao autorizado no ano anterior.
Sobre os industriais, o BC disse que o panorama para os próximos meses depende dos efeitos da medida de descontos de veículos, que será renovada, conforme disse na quarta-feira, 28, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“Há incerteza quanto a esses efeitos, tanto em relação ao impacto em junho, quanto à magnitude da sua reversão após o fim dos descontos patrocinados pelo governo”, disse o BC, completando que, excetuando-se a medida, o caminho é de desinflação para o grupo.
Para o componente subjacente de serviços, o BC vê retomada da desinflação iniciada em meados de 2022, mas de forma lenta. Já a média dos núcleos de inflação deve seguir em trajetória de queda, mas ainda acima da meta de inflação.
O Banco Central ajustou também suas projeções para o mercado de crédito em 2023. A instituição elevou de 7,6% para 7,7% a projeção de crescimento para o saldo total de crédito neste ano.
Dentro do crédito total, a projeção do saldo de operações com pessoas físicas passou de alta de 8,4% para elevação de 9,9%. No caso das empresas, a expectativa foi de alta de 6,3% para 4,4%.
Já a projeção para o saldo de crédito livre – aquele que não utiliza recursos da poupança ou do BNDES – passou de alta de 7,1% para elevação de 6,3%. Dentro do crédito livre, a projeção para a expansão do crédito às pessoas físicas subiu de 8,0% para 9,0%. No caso das pessoas jurídicas, passou de elevação de 6,0% para avanço de 3,0%.
A projeção do BC para o saldo de crédito direcionado, que utiliza recursos da poupança e do BNDES, passou de alta de 8,3% para 9,6%. Dentro do crédito direcionado, a projeção do crescimento no saldo para as pessoas físicas aumentou de 9,0% para 11,0%. No caso das pessoas jurídicas, a projeção seguiu em 7,0%. As projeções anteriores constavam no relatório de março.
“As novas projeções do crescimento nominal do estoque de crédito para 2023, apesar de ligeiramente superiores às indicadas no relatório anterior, continuam indicando processo de desaceleração do crédito, especialmente no segmento livre, compatível com o ciclo de aperto monetário”, avaliou o BC.
O Banco Central também atualizou, suas projeções para o balanço de pagamentos em 2023. A projeção para o resultado das transações correntes do País passou de déficit de US$ 32 bilhões para US$ 45 bilhões. Já a projeção para o Investimento Direto no País (IDP) neste ano permaneceu em US$ 75 bilhões.
“O aumento do déficit projetado decorre, principalmente, da redução do saldo comercial, de R$ 62 bilhões para R$ 54 bilhões, com redução do valor das exportações e aumento do valor das importações”, destacou o BC.
Em relação ao saldo líquido de investimento de estrangeiros em carteira – incluindo ações e títulos de renda fixa -, a projeção passou de déficit de US$ 5 bilhões para saldo zero. As projeções anteriores constavam no RTI de março.
*Com informações de Daniel Rittner, Estadão Conteúdo e Agência Reuters