O Linkin Park está mesmo de volta. A banda americana realizou um show impecável nesta sexta-feira (15) em São Paulo – e, com uma nova vocalista que mostrou estar à altura de um desafio gigantesco, provou por que é uma das mais importantes do rock deste século.
Foram sete anos longe do país – e dos palcos, já que, em junho de 2017, o grupo encerrou as atividades por causa da morte trágica de Chester Bennington, aos 41 anos.
Em setembro, no anúncio do retorno com Emily Armstrong como nova vocalista ao lado de Mike Shinoda – e um novo baterista, Colin Brittain –, muita gente tinha motivos para desconfiar.
A partir desta sexta, os fãs brasileiros – pelo menos os 46 mil que estiveram no Allianz Parque lotado nesta primeira de duas apresentações em São Paulo (SP) – podem ficar aliviados.
Ao longo das duas horas do show, a cantora conquistou o público ao fazer dos clássicos da banda algo seu, sem qualquer espaço para imitações ou sequer comparações a Bennington.
Mais do que isso, a americana conseguiu a proeza de soar melhor ao vivo que no estúdio. E com muito espaço para crescer ainda no palco.
Ao mesmo tempo, os singles recentes, do disco lançado nesta mesma sexta-feira, provaram que o Linkin Park está mais vivo do que nunca – pelo menos de acordo com os fãs, que cantaram as quatro músicas praticamente do começo ao fim, como se fossem os sucessos das antigas.
Com um atraso de apenas seis minutos, a banda sobe ao palco e já manda logo dois de seus maiores sucessos, "Somewhere I belong" e "Crawling" – uma espécie de declaração de intenções.
Sim, são sete anos longe do país e dos palcos. Sim, a maior parte dos seus hits tem mais de 20 anos. Mas o Linkin Park ainda está vivo.
Em apenas três músicas, a banda já emenda seu novíssimo single. "Two faced" pode ter sido lançada há poucos dias, tanto que faz sua estreia ao vivo nesta sexta, mas o refrão berrado e simples já havia conquistado os fãs.
Enquanto os dois vocalistas passeiam pela primeira vez pela passarela, ninguém diria que essa é a primeira passagem de Emily pelo Brasil com o grupo.
"Emptiness machine", primeiro single de "From Zero", já é recebido com mais energia. Difícil encontrar um verso que não tenha sido cantado junto pelo público.
Em "The catalyst", abertura do segundo ato da apresentação, a energia geral cai um pouco. O ritmo quase de culto empolga por um tempo, mas fica um pouco repetitivo.
A música de "A thousand suns" pelo menos oferece a primeira chance para o DJ, Joe Hahn, roubar a cena.
"Burn it down" recupera o clima, mas "Waiting for the end" segura um pouco novamente.
Depois de "Castle of glass", Hahn assume mais uma vez o solo – ou quase, porque o DJ continua no palco acompanhado do novo baterista.
Para o pequeno medley de "When they come for me" com "Remember the name", é a vez de Shinoda ficar sozinho com o baterista – um momento para mostrar seu projeto paralelo, Fort Minor.
A mais pesada do disco, "Casualty", não só mostra o peso da voz de Armstrong, como abre caminho para as rodinhas de "One Step Closer".
O terceiro ato é precedido de um intervalo um pouco mais longo que o necessário. No retorno, voltam apenas Armstrong e Shinoda, no teclado, para a balada de "Lost".
"Breaking the habit" é talvez a primeira (única?) a ganhar uma melodia mais suave na voz de Emily, que troca os gritos guturais da original por um refrão mais controlado. Bonito.
Mas o público não precisa se preocupar. Em "What I've done", ela volta a gritar com gosto – até para abafar um pouco os berros dos fãs, que cantam do começo ao fim.
Para compensar a demora no intervalo anterior, o quarto ato começa de forma quase imediata.
A sequência com "Leave out all the rest" passa uma sensação de que os créditos de um filme dos Transformers (ou de "Crepúsculo") deveriam começar a subir a qualquer momento.
Depois da balada de "My December", quando a energia baixa um pouco, Emily arrisca o primeiro "obrigado" em português.
Uma das poucas palavras da cantora em direção ao público anunciava uma sequência arrasadora.
"Over each other", a novidade com mais cara da nova vocalista; "Numb" faz todo mundo pular; "In the end" abre de vez as rodas; e "Faint" provoca barulheira e gritaria e cabeças batendo na melhor qualidade.
"Estamos tão felizes que vocês estão aqui, parte dessa jornada com a gente", diz Mike, em uma noite de poucas manifestações diretas com o público.
Emily Armstrong canta no show do Linkin Park, em São Paulo — Foto: Reprodução/Multishow
A última do disco novo na noite é "Heavy já the crown" – mas não menos importante. Uma das melhores canções do álbum, é recebida com gritos. E o refrão berrado de Emily já pode ser um clássico.
No fim, Armstrong finalmente está claramente mais confortável. Puxa palmas e interage mais com o público.
Uma pena que tenha levado quase as duas horas do show até isso acontecer. Quem sabe o pessoal de sábado (16) pegue uma cantora mais tranquila.
Os fogos de artifício sobre o estádio ao final de "Bleed it out" são mais que uma despedida. São um anúncio de que o Linkin Park realmente está de volta – para um lugar que dificilmente deixará tão cedo.
Fonte: g1