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Gatos e outros animais sofrem com o luto?

Embora gostemos de pensar que nosso bichano ficaria triste com a nossa morte, no momento, simplesmente não sabemos. Parece haver pouca ou nenhuma pesquisa sobre como os gatos e outros animais domésticos reagem ao falecimento de quem os cria.

Publicada em 03/09/2024 às 09:38h - 7 visualizações - Por Grace Carroll*

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Gatos e outros animais sofrem com o luto?

Ao lamentarmos a perda de um animal de estimação, talvez não sejamos os únicos a sentir a dor. Pesquisas mostram que, quando um outro animal em sua casa morre, os gatos podem estar de luto junto conosco. Já as conclusões sobre o que sentem os gatos quando morre o seu tutor são ainda muito pouco conclusivas.

O luto é uma resposta humana bem documentada à perda, mas suas raízes podem ser muito mais antigas, pois alguns cientistas acreditam que ele já existia em espécies extintas de seres humanos. Já foi observado também que algumas espécies de primatas, mamíferos marinhos como golfinhos e baleias e até mesmo corvos também mudam de comportamento quando um dos seus morre. Isso se manifesta em comportamentos que vão desde carregar filhotes mortos por dias até ficar um longo período perto do corpo, como se estivessem numa vigília.

Uma teoria é que o luto é um subproduto da resposta natural de estresse causado pela separação, observada em animais sociais como os citados acima. De acordo com essa ideia, a angústia e o comportamento de busca provavelmente evoluíram para incentivar os animais a agregarem indivíduos solitários ou perdidos a grupos maiores, o que era benéfico para a sobrevivência coletiva. Essas percepções relacionadas à união e distanciamento persistem quando a separação é permanente, como na morte, levando à dor da perda, gerando o luto.

Embora existam muitas pesquisas sobre como a perda de um animal de estimação afeta os seres humanos, sabe-se bem menos sobre como animais domésticos como os gatos lidam com a perda, algo que foi investigado por um recente estudo realizado pelas psicólogas comparativas Brittany Greene e Jennifer Vonk, dos EUA.

Diferentemente das espécies sociais típicas, o ancestral selvagem do gato era, em grande parte, solitário. Entretanto, a domesticação remodelou seu comportamento, permitindo que eles vivessem em grupos e formassem laços sociais.

O estudo de Green e Vonk sugere que os gatos podem sofrer a perda de um companheiro de estimação devido ao fato de muitos dos 452 gatos analisados apresentaram sinais de angústia após a morte de um companheiro, como maior busca de atenção, vocalização e redução do apetite. A pesquisa constatou que a força do vínculo entre os animais, o tempo que passavam juntos e as interações diárias eram fatores fundamentais para ativar o luto.

 

Esse levantamento se baseia em uma pesquisa anterior realizada pela estudiosa de bem-estar animal, Jessica Walker, e sua equipe, em 2016. O trabalho, que examinou como os cães e gatos reagem à perda de um amigo de quatro patas, foi realizado na Nova Zelândia e na Austrália. Nele, constatou-se que 75% dos animais de estimação sobreviventes apresentaram mudanças comportamentais perceptíveis, com os gatos demonstrando maior afeição, apego e vocalizações relacionadas à ansiedade.

Deve-se observar que ambas as pesquisas se basearam nas percepções dos tutores para avaliar as modificações em seus respectivos pets, o que representa um problema em potencial. Embora eles sejam, geralmente, mais atentos a alterações sutis em seus animais, as conclusões também podem ser influenciadas por suas próprias dores e estado emocional.

 

 

 

É realmente tristeza?

 

Há uma explicação alternativa para as variações de comportamento observadas após a morte de um companheiro doméstico. Ver ou estar perto de um animal sem vida pode sinalizar perigo no ambiente, fazendo com que os outros bichos alterem os hábitos como medida de segurança, em vez de ser uma resposta ao luto. Embora isso não tenha sido estudado em gatos, uma pesquisa realizada em 2012 com gaios-do-mato do oeste revelou que perceber um membro morto da própria espécie pode provocar espécie de gritos de alarme e atitudes destinadas a evitar o perigo, da mesma forma que eles reagiriam a um predador.

Igualmente, um estudo sobre abelhas, de 2006, descobriu que elas eram menos propensas a visitar flores que continham uma abelha recém-morta ou seu odor, provavelmente para reduzir o próprio risco de serem atacadas.

Isso sugere que o que interpretamos como tristeza pode, em alguns casos, ser um instinto de sobrevivência. Alguns comportamentos relatados pelos tutores nos estudos, como o fato de o gato se esconder ou procurar pontos de observação mais altos após a morte de um companheiro, podem apoiar essa ideia.

 

 

Uma pergunta que você pode estar se fazendo é se os gatos lamentam a morte de seus tutores. Embora gostemos de pensar que nosso bichano ficaria triste com a nossa morte, no momento, simplesmente não sabemos. Parece haver pouca ou nenhuma pesquisa sobre como os gatos reagem ao falecimento de quem os cria.

Uma atitude perturbadora que foi bem documentada após a morte do tutor de um animal é o consumo de seus restos mortais. Embora os gatos geralmente tenham má reputação por esse motivo, os amantes de cães devem observar que, tanto os gatos quanto os cães são conhecidos por limpar restos humanos.

De fato, os cachorros de estimação são mais frequentemente documentados fazendo isso. Alguns cientistas sugerem que esse gesto pode ter origem na fome, mas isso também aconteceu quando a comida era abundante. Outra teoria, mais alinhada com a ideia de luto, é que a limpeza pode começar como uma tentativa de reanimar um tutor que não está respondendo. Quando cutucar ou lamber não funciona, o animal pode passar a mordiscar ou morder em um esforço para despertar o dono.

Portanto, ainda não se sabe se os gatos sofrem em resposta à perda ou se estão reagindo a mudanças em seu ambiente - que ainda não compreendemos completamente.

*Grace Carroll é professora de Comportamento e Bem-estar Animal da Escola de Psicologia Queen's University Belfast

**Este texto foi publicado originalmente no site do The Conversation Brasil.

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: g1




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